"Os computadores são melhores a perceber quem nós somos enquanto pessoa do que os nossos colegas de trabalho ou os nossos amigos."
Esta é apenas uma das frases de Chris Wylie, antigo Diretor de Pesquisa na Cambridge Analytica, que deixaram o mundo sem palavras.
No recente escândalo que expôs os métodos ocultos para influenciar votos e ganhar eleições - como a de Donald Trump ou até o Brexit - o Facebook viu-se envolvido como sendo o principal fornecedor de dados.
Conhece aquelas aplicações que prometem mostrar quem foram os nossos antepassados? Ou qual será o aspeto dos nossos filhos? Ainda no outro dia acedi a uma em que o resultado mostrava qual seria o meu aspeto se fosse um homem. Entretenimento puro. O resultado deu para uns bons 10 minutos de risada com amigos, mas a verdade é que não sei quem está por detrás da app e o que será feito com os meus dados pessoais.
Foi com uma aplicação desse género, chamada thisisyourdigitallife, que a Cambridge Analytica teve acesso a dados de 50 milhões de perfis.
Como? Ao dar permissão à app, os utilizadores estavam a ceder não só os seus dados, como o dos seus amigos. Das 300.000 pessoas que deram permissões à app, a empresa conseguiu reunir dados sobre 50 milhões de pessoas que mais tarde usou para traçar perfis e planos de influência.
Para os utilizadores e para o mundo, foi um choque.
Rápidas foram as reivindicações por transparência na recolha de dados e nas permissões dadas aos anunciantes, mas tudo o que é recolhido pela rede social já pede a nossa permissão e tem muitas vezes a ver com a nossa interação: páginas de que gostamos, posts com que interagimos, tópicos a que reagimos, informação demográfica que cedemos...
O Facebook permite que façamos o download de toda a informação armazenada sobre o nosso perfil ou até gerir as nossas preferências de publicidade para ter controlo nos anúncios a que estamos sujeitos.
Aqui ficam 5 informações que o Facebook sabe sobre mim que me surpreenderam:
1- Quais são os meus gostos pessoais?
Numa pesquisa rápida, consigo saber que o Facebook guarda tudo sobre mim. Estas informações fazem com que eu fique numa categoria que os anunciantes podem escolher para mostrar os seus anúncios.
A qualquer momento podemos excluir qualquer uma destas categorias e deixar de fazer parte desse tipo de segmentação. Basta clicar no X.
2- Com quem é que eu falei através do Messenger
Podemos não nos lembrar, mas quando fazemos as configurações iniciais do Messenger, é-nos perguntado se queremos adicionar os nossos contactos para a app.
Em telemóveis Android, é até possível enviar e gerir mensagens SMS dentro o Facebook Messenger e mesmo quando desativamos esta opção, o Facebook continua a guardar os nossos contactos.
3- O que eu fiz - mesmo fora do Facebook
Quando é que isto acontece? Em 4 ferramentas principais:
- Plugins Sociais: que permitem partilhar ou colocar like num website externo.
- Login com o Facebook: que permitem usar a conta de Facebook para fazer login num outro website ou aplicação.
- Facebook Analytics: que permitem aos website e apps melhor compreensão sobre as pessoas que os estão a usar.
- Facebook Ads: que permitem mostrar anúncios em websites externos ao Facebook ou Instagram.
Mesmo sem termos o login feito ou até sem termos conta criada no Facebook, a informação do nosso comportamento é transmitida. Mas será que o Facebook é a única rede social que faz isto? Não. Tanto o Twitter, como o Pinterest ou o Youtube armazenam informação de interação em websites externos. Basta que exista um botão de partilha ou um vídeo incorporado.
4- Todos - mesmo todos - os tópicos de publicidade em que já cliquei.
Ups. Apanhada em flagrante.
Não existe anúncio em que eu não clique que não entre na categoria "Os teus Interesses". Aqui podemos encontrar de tudo: os tópicos de que temos consciência, os inconscientes e até os bizarros.
A frase de Chris Wylie começa a fazer sentido, não é? Para mim sim. Começo a achar que o Facebook me conhece melhor que eu própria. Afinal de contas tem mais de 8 anos de dados sobre mim.
Podemos também ver exemplos de anúncios criados para alcançar pessoas com um determinado interesse:
5- Tudo o que achámos que ficou apagado do Facebook.
Como assim?! As relações passadas, os posts apagados, as pessoas que desamigámos e as mensagens que apagámos. Está lá tudo e faz parte do nosso perfil e de quem nós somos para a rede social.
Depois da lição aprendida... O que devemos ter em mente?
À medida que o Facebook vai adotando novas medidas para proteger os utilizadores, é importante saber que é possível gerir estes dados e controlar os tipos de publicidade que vemos no nosso feed.
É importante também perceber que os anúncios de Facebook são apresentados em vários locais externos! No Instagram, em websites e apps da rede de afiliados e em websites externos que incluam um dos plugins do Facebook, estamos a ceder a nossa informação.
Resta-nos ganhar consciência que cada "Login com o Facebook" não é apenas conveniente, como também tem um senão. Se queremos proteger os nosso dados pessoais e estar atentos a influências externas, temos de estar informados sobre todas as formas em que podemos ser afetados.
Os nossos dados não estão a ser vendidos ou transacionados sem a nossa utilização, nós é que estamos a deixar uma pegada digital de proporções astronómicas e sobre a qual temos muitas vezes pouca consciência!